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Sem consenso sobre Cuba, Hillary deixa assembleia da OEA

"Não há consenso", disse Clinton a jornalistas, pouco antes de deixar Honduras rumo ao Egito, onde se encontrará com o presidente dos EUA, Barack Obama, que começa uma viagem oficial pelo Oriente Médio nesta quarta-feira.

A secretária de Estado indicou que a posição dos Estados Unidos - de condicionar a reincorporação de Cuba a reformas em democracia e direitos humanos - estava praticamente isolada.

"Obviamente, o governo Obama está praticamente sozinho ao afirmar que esta questão tem que ser pensada cuidadosamente, tem que estar no contexto correto", afirmou.

Os Estados Unidos teriam sido apoiados por um grupo de países caribenhos e a Colômbia, seu principal aliado na região.

De acordo com a secretária de Estado, os chanceleres darão continuidade à reunião com a presença de uma delegação norte-americana.

"Vamos continuar pressionando para chegar a um resultado que os Estados Unidos possam apoiar", disse Hillary Clinton.

A Assembleia Geral da OEA termina nesta quarta-feira.

Democracia

Mais cedo, Clinton voltou a defender a promoção de "reformas democráticas" como condição para que Cuba possa voltar à OEA.

A condição é considerada "inaceitável" pelos países da Alba (Alternativa Bolivariana para as Américas) encabeçada pelo presidente da Venezuela, Hugo Chávez.

"A OEA deve reivindicar (o ingresso de) Cuba sem condicionamento de nenhum tipo. Escutei uma resolução proposta pelos Estados Unidos que é de se indignar. Não se pode aceitar", afirmou Chávez, durante ato público na Venezuela na noite desta terça-feira, logo após conversar com o chanceler venezuelano, Nicolás Maduro.

De acordo com o presidente venezuelano, Maduro confirmou que o impasse sobre o tema cubano permanecia.

Ameaças

A Venezuela ameaçou deixar a OEA se a entidade não passasse por uma reforma.

"Ou ocorre uma transformação da OEA, ou é preciso sair da OEA e criar outra organização de Estados soberanos", afirmou Chávez na última sexta-feira.

Em resposta, na abertura da Assembleia, o secretário-geral da organização, José Miguel Insulza, saiu em defesa da entidade e disse ver com preocupação as críticas.

"Quando ouço vocês que querem acabar com a OEA, me pergunto: 'Quantas décadas serão necessárias para construir algo semelhante e quem fará o trabalho que realizamos?'", disse o secretário-geral.

"Queremos progredir e deixar para trás um passado que para muitos não é positivo, mas não com o custo de cair de novo em divisões", afirmou Insulza.

Preocupação

Antecipando o impasse sobre a situação cubana, na tarde desta terça-feira, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, propôs a criação de um grupo de trabalho para tentar um acordo consensual que unificasse as duas propostas sobre a mesa.

"Esse (Cuba) é um tema central pelo qual será recordada a Assembleia de San Pedro Sula", afirmou o chanceler brasileiro.

"Não me sentiria à vontade se deixasse que a rotina nos levasse a perder a oportunidade de ter uma solução. Não sei se teremos uma solução, mas teremos que tentar", afirmou Amorim.

Leia também na BBC Brasil: Brasil deve adotar postura 'flexível' em relação a Cuba durante assembleia da OEA

A avaliação do governo brasileiro é de que a resolução que retirou Cuba do grupo é um "anacronismo" e que, portanto, deve ser suspensa imediatamente.

Em uma resolução de 1962, período da Guerra Fria, Cuba foi suspensa da entidade, pois os países-membros consideraram incompatível o regime marxista-leninista adotado pela ilha e suas relações com a União Soviética.

Ironicamente, à época, a suspensão de Cuba foi proposta pelo governo venezuelano do presidente Romulo Betancourt.

A reincorporação de Cuba à OEA é mais simbólica do que prática. Tanto o líder cubano Fidel Castro, como seu irmão e presidente, Raúl Castro, anunciaram não estarem interessados em voltar à entidade, por considerarem-na um "instrumento" dos Estados Unidos para o controle regional.

No mês passado, Raúl Castro chegou a afirmar que "era mais fácil que uma águia nasça do ovo de uma serpente" que Cuba pretender regressar à OEA.

Xerox : : BBCBrasil

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